terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O ELOGIO DA CANETA

Sei que fui ter às tuas mãos com a melhor das intenções,
Mas isso não impede que me sinta constrangida,
Por saber que me consideram um objecto banal.
Não posso ser uma grande surpresa,
Daquelas que elevam e fazem saltitar os nossos cinco sentidos.
É por isso que me sinto na obrigação de sublinhar os meus melhores atributos.
Foram os meus familiares que colocaram no papel os mais belos poemas.
São os meus semelhantes que escrevem as mais belas histórias de amizade e amor.
Num simples guardanapo de papel, são colocadas memórias de prazer,
de uma conversa a dois, onde se assume o contrato da amizade para uma vida.
Quando alguém se sente só e triste posso registar um desabafo
ou uma fraterna mensagem de esperança.
Com um simples gesto, uma rúbrica ou assinatura, faço despertar a alegria dos mais pequenos, quando autorizo a sua participação numa viagem ou no aniversário de um amigo.
As crianças vão saboreando comigo a aprendizagem das primeiras letras,
Com a ternura que a sua escrita irregular não deixa transparecer.
É comigo que celebras os mais importantes contratos da tua vida,
Mas, também é comigo, que entras no maravilhoso jogo das palavras.
... Também escrevo coisas horríveis, algumas de que me arrependo,
mas isso faz parte da vida.
Contudo, nas tuas mãos não sou igual aquelas que se parecem comigo – é que, quando me tocas e embalas, as letras adquirem formas peculiares e sinto-me diferente – é a tua distinta caligrafia.
Eu sei... Sei que sou um pequeno objecto, parecido com tantos outros da minha família.
Mas, também sei, que de pequenas coisas... se faz uma grande amizade!
E, se eu for um presente, cada vez que me tocares, não te esqueças de quem me levou até ti.
F. Trino

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