Olha para ti.
Observa-te de frente.
Enfrenta o espelho,
E não te desvies do seu reflexo.
Vives constantemente a fazer de conta que tudo está bem.
Vives eternamente a esforçar-te por fazer os outros felizes.
E a tua felicidade pouco te importa.
Achas que tudo o que tens já é bom,
E tudo o que te tiram é porque não o mereces.
Vais-te destruindo a pensar em resolver os teus problemas,
Sem incomodar os outros.
Se é isso que queres,
Então, deixa de viver em função dos outros.
Talvez até sejas mais apreciado.
Uma montanha, ao longe, parece-te muito grande
Mas, se te aproximares demasiado, deixas de sentir a sua grandiosidade.
Contigo, o que acontece é semelhante.
Estás sempre tão próximo de quem gostas,
Que ninguém se consegue aperceber da dimensão dos teus problemas,
Ou da dimensão da tua generosidade.
Tal como acontece com quem parte para um destino, sem regresso.
Só ao longe as pessoas veem e analisam os outros em pormenor.
São as suas qualidades, as suas virtudes, aquele gesto feliz,
Uma atitude bem intencionada, aquela mão estendida,
Aquele sentido de humor, aquele conselho na hora exacta,
Aquela forma de estar e sentir, aquele sorriso meigo,
O ombro pronto a receber um choro contido... uma óptima pessoa – dizem.
Entretanto, não te apontam defeitos, nem erros, nem indecisões,
Nem contrariedades, nem contratempos, nem vícios...
Os males só afectam os outros, quem está perto de ti.
É por isso que te devias afastar mais.
Eu sei que precisas dos outros,
Eu sei que os outros não passam por ti com indiferença,
São peças importantes para que funciones na perfeição.
Não te esqueças, contudo, que cada peça tem determinada função,
E um lugar certo.
É esse lugar certo que talvez não encontres,
E, certamente, também tu tens o teu lugar certo,
Mas quereres estar em todo o lado ao mesmo tempo, confunde-te.
Talvez te julgues pouco importante em qualquer lugar,
Mas, nem por isso deixas de querer estar em todo o lado, ao mesmo tempo.
Discretamente vais arruinando o teu ser,
Vais-te desacreditando,
Achas que não tens grande valor.
Se os outros são importantes para ti,
Porque é que não tens o mesmo valor para os outros?...
Passas a vida a depositar votos de confiança nos outros.
Em ti, pouco confias.
Estás uns dias bem, outros não.
Sentes-te fracassar,
Mas uma pequena lufada de ar fresco,
Pode trazer-te rapidamente a esperança de olhares o horizonte com um sorriso,
Provavelmente, o teu defeito é dares tanto em troca de tão pouco.
Sei que estás a pensar que quando dás, não pedes nada em troca,
Mas, tenho a certeza, de que te sentirias muito melhor se isso acontecesse.
Talvez te esteja a aborrecer com esta conversa.
Já a conheces bem, mas nem por isso deixas de ser igual.
Será personalidade ou teimosia?...
Será coerência ou orgulho?...
Será paciência ou intolerância?...
Será uma forma de estar ou uma maneira de querer estar?...
Até eu já começo a colocar inúmeras interrogações,
E a utilizar a incerteza.
E já te conheço há tantos anos.
Contudo, os dias passam por ti, vais vivendo experiências,
Mas, o tempo, aparentemente, nada te ensina.
Queres tornar-te duro, queres mostrar-te insensível,
Mas só eu (... e tu),
Sabemos o que sofres quando te tocam nas feridas ocultas,
E mesmo assim, continuas a evitar que as lágrimas te percorram o rosto,
Não queres transparecer nada, a ninguém,
Mas és demasiado frágil para o conseguires.
F.Trino
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